Estávamos à mesa, a conversar sobre a viagem do Pedro e do Gil à Suécia, e veio logo um Do que mais tive saudades foi da sopa. E é bem verdade que durante os dois anos que passei fora, a trabalho, costumava pedir à minha mãe no regresso Vou chegar tarde. Fazes-me uma sopa quentinha para matar saudades? (Também pedia pudim de ovos com aquele caramelo líquido no fundo, mas isso agora não importa nada.)
Isto fez-me voltar lá atrás, aos tempos em que a avó Elisa acendia o lume velho para fazer o jantar Em tendo sopa, filha, tens sempre que comer. Depois das vides finas estarem ateadas, punham-se as cavacas mais grossas e eram elas que iam derretendo a cebola e o tomate que davam o primeiro sabor à água da panela, já temperada de sal. Havia sempre feijão encarnado cozido e juntávamos-lhe um púcaro dele, para o caldo ficar mais gostoso e macio. A ‘vó ensinou-me que nem tudo diz bem na sopa: é importante casar os ingredientes certos e pô-los pela ordem que pertence, mas, visto assim a esta distância, acho que ela acabava por fazer uma mistura batoteira de cenoura, nabo (que eu adorava comer cru, enquanto cortava o resto das verduras), couve portuguesa, batata, abóbora e às vezes, como ela dizia, uma “macheia” de cotovelinhos. No fim, punha azeite e tinha sempre o cuidado de não o deixar ferver ou o teu avô vai começar a queixar-se do estômago, já sabes como ele é. Comíamos a sopa, ainda havia para quem quisesse um bocadinho de conduto – normalmente, carne de vaca - e estávamos tratados.
O sabor do caldo a fumegar e aquele conforto quente que se vai espalhando pelo corpo são coisas que não consigo esquecer.
Será que a maior parte das pessoas se esqueceu disso? É que temos mesmo as melhores verduras e sopas do mundo, tal como eu tive, felizmente, a melhor avó do mundo.